quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

fim do ano

Faltam pouco mais de cinco horas para o final do, dito sem certeza, um dos bons anos desde que me conheço. Também não me conheço há muito tempo, mas há tempo suficiente para saber retirar, de todos as memórias, os melhores e piores momentos. 

  Foi um rodopio de sensações, uma mistura de cheiros e sabores, uma ansiedade repleta de tristezas... È demasiado irónico dizer que foi o ano em que perdi, sem dúvida, as coisas mais importantes que tenho porque tudo foi vago, distante e abrutalhado por tudo. Tudo o que podia ser bom, correu mal.

  Quando se começa a mexer nas memórias já arrumadas nos subúrbios do vazio que preenche a minha cabeça, começo-me a aperceber que, afinal, foi um mau ano. Aqueles sentimentos ruins, aquelas fraquezas que pensavamos estarem escondidas, as mãos que não se cruzaram, a chegada sem recepção...a porta que não abri mais e os telefonemas que deixaram de existir. Aqueles fins de noite, mal-dormidas, só para estarmos mais perto, os encontros que não aconteceram, as promesas perdidas nas vielas da nossa cidade, os sorrisos trocados por lágrimas. 

Só queria morrer e renascer e apagar da minha memória os teus passos, a tua cor, a tua voz, a tua imagem. Sem dúvida, seria muito mais feliz.

amo-te

Quando se perde o passado, perde-se quase tudo e fica-se perdido. Não fui excepção. Partiste e tudo o que tive foi um chegada sem sentido, uma partida que não deveria ter acontecido, um bloco de arrependimento, um vaga de choque. Porque eras tudo o que havia e, sem aviso prévio, viraste a esquina e continuaste viagem. Já era a tua hora?

Desapareceste sem um último adeus e fazes-me falta.

Fazes-me falta companheiro das tardes vividas, não duvides.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Que sensação. Sentir-te tão perto e não te ter, o sufoco com que me envolves, com que me tocas, a furia com que moldas o meu corpo. Aquele enlaçado de dedos que surgiu da forma mais espontanea possivel mas que rejeitei por impulso, que rejeitei porque não fazia sentido, só para mim.

Tu não sentiste, ninguém mais sentiu, nem as paredes se moveram, mas eu senti tudo e mais alguma coisa naquele estagnar de tempo entre a união e a quebra do momento.

Fracções de segundos, qualquer coisa de estranho, algo nao está bem.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sugeriram-me espírito natalício ontem, sugeriram-mo hoje e talvez o sugiram amanhã. Mas não me apetece nada de tudo o que me rodeia. Não me apetece dialogar porque não me revejo em toda esta alegria, não me apetece escrever porque não sinto força nas articulações que me permitam escrever tudo aquilo que me apetece, não me apetece caminhar porque sei que encontrarei sorrisos no meio da multidão. Não me apetece sair à rua porque para mim está a chover e eu, como sempre, não tenho com que me proteger, nem sequer me apetece fugir porque não vejo solução.
Não sei sequer há quanto tempo não me apetece nada nem coisa alguma.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Soltam-se as palavras mais duras de ser ouvidas. É o enchimento do peito de ar poluente e inrespirável. Quando tudo tem um caminho e nós próprios fazemos os buracos que nos atraiçoam. amos crescendo com tudo e não duvidem que as desilusões aumento, sem dúvida, a nossa frieza e a nossa insentimentalidade. Criamos as nossas próprias rugas, cerramos os punhos e fingimo-nos humanos quando o puro egoísmo é sempre mais forte. Feno azedo, pinhas podres no meio da verdura, restos de corpos que ficaram, que mundo. Voltas nas vidas dos que se dizem fiés. A mágoa come-me o interior, raspa-me até ao mais simples osso que suporta todo o corpo que levo comigo, todos os dias. Mas levo-o, e a partir de agora caminho sozinha, porque assim me deveria sempre ter habituado. 
Roída de saudade,resisti ao impulso. A tua respiração pousou no meu ouvido e abraçaste-me fortemente. Lentamente, despreendeste os teus braços e redimiste-te à tentativa de separação total. Não houve fusão, nem mesmo um olhar traçado de sensualidade, mas, definitivamente, houve uma aceitação das saudades que ambos matinhamos presas dentro de nós. Polimos as falhas e saciamos a sede de estar próximos. No fim, trocámos sorrisos e olhares de satisfação, semelhantes a todos os que tinhamos trocados nas noites em que pertencemos um ao outro. Respirámos fundo, normalizámos a pulsação, mantivemos juras de próximoas uniões de momentos e seguimos, cada um, separada e calmamente, o caminho para casa. Nessa noite, tudo começou ... outra vez.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Quebra

Que silêncio, que vaga de frio imunda de poeira trespassa o ar que se cruza aqui, hoje e agora. Que quebra no livro da história, que fantasia queimada nas rendas do lume, que sentimento desfeito na beleza do anoitecer do dia mais triste dos últimos tempos. A serenidade com que me calas, a mudez nos nossos lábios, tudo o que sempre quisemos que não acontecesse. Mas aconteceu, da pior forma. Sabes? Tenho medo de tudo. Tenho medo porque me criaste uma enorme fossa que circunda todos os meus passos, todos os meus pensamentos, todas as coisas que me pertencem. Raspaste-me da pele as presenças de todos aqueles que me incomodavam positivamente, tornaste-me tua e eu entreguei-me. Agora tenho medo de pronunciar uma mísera palavra que seja porque tudo soa mal e tudo é punível. Apesar de tudo sei que posso dizer que se trata, nada mais, nada menos, do mais belo silêncio que alguma vez escutei.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os lençóis não enganam. Cheira-me ao teu perfume que fizeste questão de colocar em abundância para que não me esquecesse de que por aqui passaste. Não sei mais nada de ti, nem nada que diga respeito à tua existência desde então. Sumiste e contigo levaste parte de mim, que sugaste naqueles tempos em que existiu um nós. Os nossos sorrisos, eternas crianças. Sabia de cor o sabor do nosso cigarro. Aliás, sei de cor o teu perfume, sei de cor o teu sorriso, as tuas expressões, a tua letra, as tuas cores. Sei-te a ti, de cor. Apesar de tudo, nunca quiseste que o soubesse, sempre te quiseste a ti. Castidade santa, pureza quase intocável. Sabendo tudo, que tudo o que fomos se resumiu a uns tempos, umas trocas de corpos, uns ilusões de toques. Quiseste-te a ti e à tua felicidade já criada. Preferiste isso e eu continuo aqui, querendo-te. Mas jamais serei tua, jamais. Porque fingiste que não era tua, criando assim a maior mágoa que alguma vez poderia ter sentido. Foste e és a dor que rojarei no chão, que entalarei nos trilhos dos ferros que trespassam a valeta esburacada. Quiseste-o ser, tornaste-te assim e fizeste-te pó no meio da multidão.

Dizia-se amor

    E mais um dia passou. Sem ti, sem nós, sem o nosso sabor, sem tudo. Restos do "tudo" que ficaram, que alimentaram o vazio do silêncio que nós próprios criámos. Como tudo, tudo passa. As oportunidades perdem-se e os momentos morrem. E como tudo, nós morremos também. São nós desfeitos, são olhares conformados e palavras que não conseguem descrever nada do que queremos. É uma voz muda que nos une, que no fundo diz tudo, que no fundo diz o nada que ambos precisamos de tomar consciência. Profundas crianças que nos transformamos porque no chão da calçada se escreve tudo o que privámos de ser dito. Aí, nada incomoda, nada critica, nada mente, nada atraiçoa nada. Somos apenas um monte de palavras que ficaram por dizer, quais oportunidades que deixamos fugir, só para que tudo ficasse bem. E no fim de tudo, o que restou foi um nada tão vazio que até o mais pequeno barulho incomoda. Roemos o tempo e fingimos ser o que devemos ser para que o Mundo fique melhor, para que o todo se complete. São frases vindas d'outros tempos, abraços e sorrisos que nos unem mas que nos destroem em pensamento. E porquê? Porque perdemos tempo em todas as folhas de um diário? Foram nossos os dias plenos, as manhãs partilhadas, aquelas tempestades que só nos uniam. Sugaste a pele, a alma, cravaste em mim cada beata por ti queimada, cada espinha que te roía a mente. Fui o teu corpo, a tua pessoa, fui a tua vida porque em mim depositaste mais que o permitido, porque de mim fizeste o teu espelho. Desenhaste em mim a nossa história e tão depressa a escreveste como a desfizeste. Acorrentaste-me e com isso levaste tudo o que ainda podia ficar. Fizemos frente ao tempo e pintamos o nosso quadro da cor mais perfeita. Esvaziámos a sala só para ficarmos sozinhos no tempo, num tempo que foi só nosso momentaneamente, por muito que não queiras aceitar. Foram trocas de palavras bonitas que ainda se arrastam no chão para o qual já não olhamos. Quantos risos nos pertenceram, quantos segredos ficaram entre as nossas coisas. Mas perdemos. Foi nosso tudo o que queríamos e tudo o que queríamos deixámos fugir. Porque «é o melhor».
   Amo-te.